Mais do que instalações físicas, os cemitérios são lugares de memória coletiva e de expressão de respeito social. Na perspectiva sociocultural, esses espaços refletem como uma sociedade lida com a finitude da vida e honra aqueles que partiram. A antropologia da morte nos ensina que cada cultura elabora símbolos e rituais para dar significado à perda e perpetuar, de algum modo, a existência dos mortos na memória dos vivos. Por isso, os cemitérios têm uma dimensão simbólica riquíssima: são, nas palavras de Thompson, “compreendidos como lugares que evocam e fortalecem a memória de um grupo”. Neles, “a sociedade, ao construir o cemitério, promove uma negação da morte por meio da imortalidade simbólica”. Ou seja, erigimos lápides, tumbas e mausoléus em parte para afirmar que aqueles indivíduos, e os valores que representavam, continuam presentes de forma simbólica entre nós. Cada epitáfio, cada fotografia gravada na lápide, cada flor depositada sobre o túmulo constitui um ato de lembrança e de narrativa coletiva sobre quem fomos.
Em conclusão, os cemitérios no Brasil não são apenas um “problema de espaço” ou um “serviço a ser prestado”, eles são depositários da memória coletiva e termômetros do respeito que uma sociedade tem por sua própria história e pelos ciclos da vida. Para os gestores cemiteriais, isso impõe a missão de ir além da administração burocrática: é preciso ser guardiões da memória, conciliando eficiência administrativa com sensibilidade cultural.
Felipe Badotti